Empoderamento feminino através da educação e tecnologia

A tecnologia democratizou o acesso à informação, contribuindo para um melhor conhecimento a partir de ferramentas inovadoras. Contudo, a verdade é que ainda não vivemos num mundo plenamente igual para todos e as diferenças sentem-se quando se é mulher. E uma das chaves para contornar este paradigma pode estar em algo tão basilar no futuro de qualquer sociedade: a Educação.

Num mundo em que cada vez estamos mais dependentes da tecnologia – para contactar amigos e familiares, fazer uma transação bancária ou até marcar e mesmo ter consultas – calcula-se que quase 40% de mulheres em todo o mundo não tenham acesso ao mundo online, perdendo assim múltiplas oportunidades. Em relação aos homens, são menos 260 milhões de mulheres a ter acesso à internet e às suas múltiplas oportunidades. No caso da tecnologia, apenas um quinto dos profissionais que trabalham na área de inteligência artificial é mulher e as mulheres são apenas 28% dos licenciados em engenharia e 40% dos licenciados em áreas de programação ou informática.

Além do claro desequilíbrio, o mundo fica, certamente, a perder com esta situação. Dizem vários estudos que, até 2050, 75% dos empregos estarão relacionados com as áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemáticas) e sabe-se que as mulheres apresentam um desempenho superior aos homens – em 33% - e consequentemente são altamente produtivas. Trazer mulheres para a tecnologia poderá resultar, por isso, em soluções mais criativas e com maior potencial para inovação. Todavia, com menos acesso ao mundo online, as mulheres perdem também acesso a formação, sendo impedidas de desenvolver as competências digitais necessárias para se envolver em espaços digitais, o que diminui as suas oportunidades de seguir carreiras relacionadas às áreas STEM.

A tecnologia melhora o acesso à educação de qualidade e desempenha um papel importante na eliminação das desigualdades sociais e de género. Por isso, é importante começar a criar e fortalecer as condições para a inovação e criatividade para as aprendizagens, ao invés de passar apenas conhecimento, fórmulas e teoremas. Os processos educativos podem ser cada vez mais baseados em processos de descoberta, de forma ativa. Outras ações que podem ser feitas para promover uma maior equidade no mundo tecnológico podem passar por eliminar estereótipos em relação às diferentes áreas de trabalho; reforçar a existência de exemplos femininos nas áreas STEM; cultivar ambientes de criatividade na escola e em casa; encorajar o pensamento criativo; e combinar a utilização da tecnologia nos projetos do dia a dia. É essencial que incentivemos a boa utilização da tecnologia de forma a desenvolver a literacia digital e desmistificar um conjunto de tabus.

Se as oportunidades STEM são muitas vezes referidas como os empregos do futuro, promovendo inovação, bem-estar social, crescimento inclusivo e desenvolvimento sustentável, então existe aqui muito trabalho para fazer, por parte de entidades como a UNESCO, estruturas locais, mas não só. Todos nós podemos contribuir para um futuro igualitário. Tal como o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, referiu a propósito do Dia Internacional das Meninas e Mulheres na Ciência: “Todos nós podemos fazer a nossa parte para libertar o enorme talento não explorado no nosso mundo – começando por encher salas de aula, laboratórios e salas de gestão com mulheres cientistas”. E isto pode ser aplicado a todos os dias internacionais.

Filipa Lemos Cristina, Country Manager da Kinderpedia Portugal

 

A Filipa é a Country Manager da Kinderpedia Portugal. As suas paixões estão ligadas às pessoas, pois são os motores da humanidade. Adora contribuir para a inovação na educação e para o desenvolvimento estratégico das pessoas nas organizações. É mãe (um dos papéis mais inspiradores e de maior desenvolvimento de competências na vida) e tem mais de 20 anos de experiência nacional e internacional em ambientes multinacionais e de start-up, em empresas de Healthcare e EdTech. 

Este artigo foi publicado originalmente na Executiva, no dia 13 de Abril de 2023